quarta-feira, 1 de abril de 2015

A Origem da Páscoa



Considerada pelos cristãos
como a celebração da ressurreição de Jesus,
na verdade a Páscoa teve suas origens
em religiões politeístas.

A Igreja ensina que a Páscoa é a comemoração da ressurreição de Cristo. Entre os judeus, é a comemoração da libertação de seus ancestrais hebreus que viviam como escravos no Egito. Mas, antes da libertação dos hebreus, a Páscoa já era celebrada por povos que cultuavam vários deuses. Entre os judeus, a Páscoa é comemorada relembrando o dia em que seus ancestrais hebreus, liderados por Moisés  - e, segundo a Bíblia, guiados por Deus - fugiram do Egito, onde viviam como escravos.
O inglês David Harley, professor universitário especializado sobre o Antigo Testamento e estudos judaicos, diz que a Páscoa entre as famílias judias é comemorada com uma ceia especial, na qual são servidas comidas tradicionais, e são cantadas canções especiais para a ocasião. Seguindo a tradição, a criança mais nova da família pergunta: "Por que esta noite é diferente das outras?" O pai conta então a história da fuga do Egito, tal como está relatada no Livro do Êxodo, no Velho Testamento. Conta o livro que esta pergunta foi feita pelo filho mais novo de Moisés quando, ainda no Egito, ele e sua família ceavam e os hebreus se preparavam para a fuga.

A Páscoa cristã

A palavra "Páscoa" vem de "Pessah", que significa "Passagem" em hebraico.  Os cristãos a consideram  como a mais antiga e a mais importante festa cristã. Os judeus a celebram como libertação após a escravidão no Egito, enquanto os cristãos a interpretam como o retorno de Jesus após sua morte, mas em ambos os casos, existe um mesmo significado. O início de uma nova vida, a renovação de esperanças. 
Mesmo antes de ser comemorada entre os judeus, a Páscoa já era uma tradição antiga entre povos "pagãos" (*). Eles sempre a comemoravam entre o fim de uma estação e o início de outra - entre o fim do inverno e o início da primavera, por exemplo. Isto também representava um ritual de "passagem", uma nova vida, uma renovação.

Os ovos e o coelho

Os símbolos mais conhecidos da Páscoa - o coelho e os ovos - são de origem pagã. São provenientes de festas em honra a vários deuses das religiões persas, romanas e armênias. Nas comemorações, entre esses povos, havia o hábito de receber e oferecer ovos coloridos que simbolizavam a fertilidade e o reinício da vida. A tradição de presentar pessoas com ovos de verdade decorados é mantida ainda hoje em vários países. Na Ucrânia, as pinturas retratam flores, rios e outros aspectos da natureza. O mesmo ocorre na China e em outros países europeus e asiáticos. Nesses países, essa tradição milenar não permite que os ovos sejam comidos, pois eles representam o reinício da vida; comê-los, portanto, seria um sacrilégio.
A ideia de produzir ovos de chocolate surgiu na França no século XIX. A princípio, é claro, os ovos eram feitos em casa. Eram recheados com outros doces e às vezes com brinquedos para as crianças. Essa tradição foi trazida para o Brasil e outros países da América pelos imigrantes alemães. Depois, com o passar do tempo, passaram a ser fabricados e comercializados por grandes indústrias de chocolate, como acontece ainda hoje.
O coelho surgiu como símbolo da fertilidade no Antigo Egito. Deve ter sido assimilado pelos hebreus no tempo do cativeiro naquele país. Até hoje os coelhos são reconhecidos pela sua notável capacidade de reprodução, gerando grande número de filhotes em cada ninhada. Como a Páscoa é interpretada como a ressurreição da vida, o coelho é visto como o símbolo ideal.

A data da Páscoa cristã

A data da Páscoa cristã foi fixada pela primeira vez pela Igreja Católica durante o Concílio de Nicéia no ano 325. Passou a ser comemorada sempre no primeiro domingo após o início da Lua Cheia na primavera, que ocorre sempre entre 22 de março e 25 de abril.
A decisão foi assimilada por todas as correntes cristãs, mas com reservas. A data quase sempre coincidia com as festas pagãs, e isto não agradava a muitos cristãos não católicos. Na tentativa de agradar a todos, sugeriu-se que fosse comemorada logo após o "Pessach" ("Dia do Sacrifício do Cordeiro" em hebraico), que seria o "Dia da Morte de Jesus". Assim, as celebrações pascais passaram a integrar o calendário da Semana Santa, que inclui a "Sexta-Feira da Paixão", o "Sábado de Aleluia" e o "Domingo da Páscoa".

(*) Povos que adotavam diferentes religiões monoteístas ou politeístas, nem cristãs, nem judaicas ou hebraicas.


Referências:

  • The World's Religion - vários autores - Lion Publishing - Herts, Inglaterra
  • Almanaque Abril - Mundo 2001 - Editora Abril - São Paulo, SP
  • The World Almabac - Andrew & McMell Publichers - New Jersey, EUA 

sábado, 17 de janeiro de 2015

Deuses e Divindades

Estátua representando Apolo,
deus da beleza,
na Grécia Antiga.
Há diferenças
entre um deus e uma divindade,
embora alguns poderes sobrenaturais
sejam atribuídos a ambos.


Um deus é um tipo especial de divindade. Na maioria das religiões, os deuses e as deusas são representados representados com aspectos de homens e mulheres, a exemplo do que ocorria no caso de Apolo, como se vê na ilustração. Embora nas chamadas religiões politeístas sejam assumidas crenças em vários deuses, predomina a convicção de que um deus seja um ser com poderes supremos, mesmo cada um sendo relacionado a algo específico. Apolo, por exemplo, era venerado na Grécia, na Antiguidade, como o ser supremo responsável pela beleza, especialmente pela beleza humana. Os antigos gregos valorizavam muito a estética, e consideravam Apolo como o ser que tinha o poder de chegar à perfeição da beleza, mas não somente a física. Como se vê na ilustração, Apolo segura uma lira - instrumento musical muito conhecido na Grécia de então. Isto revela o alto valor que os gregos atribuíam à beleza da música como arte.
Uma divindade é um ser com poderes semelhantes aos dos deuses, mas menos poderoso do que estes. São exemplos de divindades  os santos e anjos da Igreja Católica, os quais são considerados como seres capazes de operar milagres ou de atuarem como mensageiros ou intercessores entre a humanidade e Deus. Também podem ser consideradas "divindades" os próprios deuses da antiga Grécia, aos quais eram atribuídos poderes específicos, porém eram menos poderosos que Júpiter, o deus supremo. Em várias culturas existentes no mundo, são também divindades alguns animais, pedras, pedaços de madeira ou qualquer outro objeto ao qual as pessoas atribuem algum poder sobrenatural. Essas pessoas acreditam que esses objetos tem o poder de transmitir poderes entre os deuses e os humanos.

Fonte: "The Word's Religions" ("As Religiões do Mundo"), de vários autores - Lion Handbooks, Londres, Inglaterra. 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A Origem do Cristianismo

"Jesus con La Cruz" 
- quadro de El Greco (Wikipedia) 


Muitas pessoas acreditam que Jesus 
foi o fundador do cristianismo. 
No entanto, 
a fundação da religião 
que ainda hoje tem o maior número de adeptos no mundo
só ocorreu em Roma,
mais de 300 anos
depois de sua morte. 


Quando alguém lhe pergunta qual é a sua religião, se você diz que é católico, batista, seguidor da Assembléia de Deus, ou luterano, etc., a resposta não está correta. Estas não são religiões, são divisões existentes dentro de uma mesma religião. São as chamadas "denominações cristãs", e seja qual for a qual delas você segue, a sua religião é a mesma relacionada a todas elas: o cristianismo. Mas para entendermos melhor como se deu o início do cristianismo, é interessante verificarmos o pouco que se conhece a respeito da vida de Jesus, aquele que, segundo os cristãos, foi o pilar principal - e, para muitos, o verdadeiro fundador - da própria religião.
Segundo o teólogo inglês Richard T. France, "o cristianismo foi fundado com base na adoração a Jesus como o 'Messias', o 'Filho de Deus' e a única altorrevelação de Deus ao homem" e nas ideias e conceitos que ele pregava e defendia (1). Mas isto não significa necessariamente que Jesus tenha sido seu fundador. Ao mesmo tempo, tanto os estudos de Richard France como os de muitos outros teólogos e historiadores revelam esse mesmo Jesus como uma figura historicamente real, nascido em meio a uma insignificante condição social que o tornou desconhecido fora dos domínios do Império Romano durante toda a sua vida (2). 
Nascido pouco depois da morte de Herodes, o Grande, que governava como rei da Judéia (ano 4 a.C.), Jesus viveu por cerca de 30 anos. Segundo o Novo Testamento, frequentemente ele viajava através da Palestina fazendo suas pregações, prevendo a vinda de um "Novo Reino" (que para muitos ainda está por vir), interpretado pelos próprios cristãos até hoje num sentido mais religioso, porém na época visto pelos  romanos e pelas próprias autoridades judias como uma ameaça sob o ponto de vista político. Isto o levou à condenação à morte na cruz, a qual, segundo os cristãos, já estava prevista mesmo antes de seu nascimento. O Novo Testamento revela que Jesus, ao longo de toda a sua vida, sabia que morreria daquela forma e dizia que este era seu destino: o de levar consigo tal penalidade para, na condição de Filho de Deus, obter a salvação para a humanidade. Mas há relatos bíblicos de que, antes de morrer, Jesus realizou milagres: fez um morto (Lázaro) ressuscitar, cegos voltarem a enxergar, paralíticos voltarem a andar, etc. 
A partir daí, os relatos sobre Jesus - de que ele teria voltado da própria morte e foi visto vivo por vários de seus amigos e seguidores - são considerados como verdades pela fé, embora não hajam evidências materiais possíveis de serem consideradas como provas de que isto tenha ocorrido. Por outro lado, a inexistência dessas evidências não deve ser considerada como uma prova de que tais coisas não aconteceram. Neste campo, é necessário respeitar os direitos, as opiniões, as crenças e as razões de cada pessoa que nelas crê ou não crê. 
O que os registros históricos comprovam é que um dia, não se sabe em que ano, mas algum tempo depois que Jesus morreu, chegou em Roma um homem chamado Simon Bar Jonah"(Simão, Filho de Jonas" em aramaico, o idioma falado em Israel na época de Jesus). Era aquele o verdadeiro momento decisivo para o estabelecimento do cristianismo como religião. Os Evangelhos dizem que por esta época Simão era chamado "Pedro", porque Jesus lhe teria dito: "Tu serás chamado Pedro porque és a pedra sobre a qual edificarei a minha igreja." Neste caso, torna-se óbvio que "Pedro" é um "aportuguesamento" da palavra "petrus" ("pedra" em latim). Portanto, o fato de Jesus ter usado uma palavra em latim (o idioma oficial de Roma na época), e não a palavra pedra em aramaico (O idioma falado na própria região em que ele vivia e se encontrava naquele momento), parece ser uma confirmação de que ele mesmo já sabia que o verdadeiro início do movimento cristão se daria em Roma. As razões para isto são óbvias: Roma, na época, era considerada pelos próprios romanos como a "Capital do Mundo", e Jesus sabia que por isto mesmo seria o local ideal para se iniciar a propagação da fé para o mundo de então, já que não se poderia divulgá-la a partir de Jerusalém porque os romanos e os seguidores de outras religiões teriam dificuldades para entender por que Deus escolheria para esta finalidade uma cidade já então derrotada e destruída por seus inimigos. 
Evidentemente, quando Simão - ou "Pedro", como preferirem - chegou em Roma, perigos iminentes o esperavam. Por razões políticas, é claro. Como todos os outros cristãos em Roma, foi acusado de ser ateu por não aceitar as crenças religiosas dos romanos. Os cristãos também eram equivocadamente interpretados pelos romanos de "judeus", pois estes ainda não viam as diferenças entre o judaísmo e o recém surgido cristianismo. Eram também acusados de serem subversivos por serem vistos como uma ameaça à espiritualidade social do Império Romano. 
Incitado pela aristocracia e pelas autoridades romanas que temiam perder seus privilégios sociais e políticos, grande parte do povo romano via os cristãos como seus piores inimigos e lhes aplicou uma severa perseguição que gerou muitas mortes horrendas. Pedro foi crucificado como Jesus, porém de cabeça para baixo (3). O romano Saulo, convertido ao cristianismo e conhecido como Paulo, foi considerado pelos romanos como um traidor e decapitado. 
Muitos cristãos foram perseguidos durante séculos, até que, cerca de 300 anos depois, por volta do ano 312, o Império Romano concluiu que as perseguições prejudicavam o próprio Império, já que o cristianismo pregava o respeito à dignidade humana. Por isto, naquele ano, o imperador Constantino concedeu aos cristãos a liberdade de culto. Porém somente cerca de 70 anos depois o cristianismo se tornou oficialmente uma religião, mas em Roma e com o reconhecimento pelo império. Em seguida, veio o estabelecimento da posição do bispado de Roma, que deu origem à Igreja Católica Apostólica Romana, hoje popularmente conhecida apenas como "Igreja Católica" ou "catolicismo". Com o passar dos anos, durante a Idade Media, surgiram entre os cristãos muitos descontentamentos em relação às determinações e ações dos líderes católicos, o que gerou movimentos como o liderado por Martin Luther (no Brasil chamado de "Martinho Lutero"), e que deram origem às chamadas "Igrejas Protestantes" - ou, como dizem hoje seus adeptos: "Igrejas Evangélicas". Mas esta é uma outra história para outra ocasião.


(1) Richard T. France, em "Jesus" - publicado em "The World's Religions" ("Religiões do Mundo"), pela Lion Publishing plc., na Inglaterra.
(2) Jesus nasceu e viveu em Jerusalém quando a cidade estava sob o domínio do Império Romano. 
(3) Talvez seja por isto que a cruz invertida é considerada um símbolo demoníaco.

Fontes: 
  • "The World's Religions" - Lions Publiching plc
  • Enciclopédia Conhecer - Volume A-Esp (capas) - Editora Abril 

sábado, 20 de dezembro de 2014

Lucas e Seu Amigo "Teófilo".

Lucas (para os católicos, "São Lucas")
retratado pelo pintor italiano
Andrea Mantengna (1431-1506).
Muitas pessoas
admitem que pensam
que o "Teófilo"
a quem Lucas se referiu
em sua mensagem
era um amigo específico. 


Lucas é considerado um dos Quatro Evangelistas - autores dos quatro Evangelhos que constam no Novo Testamento atualmente. Ele nasceu na cidade de Antioquia, na Síria, que naquela época era o maior centro da Grécia Helenística (o período conhecido como "helenístico", na Grécia, durou de 323 a 31a.C.). Os primeiros cristãos o descreveram como autor do "Evangelho segundo Lucas" e dos "Atos dos Apóstolos", que originalmente eram chamados "Atos de Lucas".
Os Atos dos Apóstolos é um conjunto de textos também conhecido como "Livro dos Atos". É o quinto livro do Novo Testamento. Nele Lucas incluiu sua concepção dos fundamentos da Igreja Cristã através de mensagens dirigidas ao Império Romano. Na verdade os Atos constituem a segunda metade dos textos cuja autoria é atribuída a Lucas e provavelmente, segundo alguns estudiosos, foram escritos entre os anos 80 e 90 d.C. A primeira parte é a conhecida como "O Evangelho Segundo Lucas", na qual ele descreveu sua concepção do plano de Deus para salvar o mundo através da vida, da morte e da ressurreição de Jesus. Os Atos resumem a história da Primeira Igreja Cristã - ou "Igreja Cristã Primitiva" - e o "Evangelho Segundo Lucas" é um relato sobre a vida de Jesus desde o nascimento do Filho de Deus à ascensão ao céu. No primeiro capítulo dos Atos (1:1) e no primeiro capítulo do Evangelho (1:3), Lucas dirigiu sua mensagem a alguém a quem ele chamou de "Teófilo". Como o nome aparece escrito na Bíblia desta forma (com letra inicial maiúscula), são muitas as pessoas que pensam tratar-se de um homem cujo nome era "Teófilo".
Na verdade, as duas mensagens são dirigidas a qualquer pessoa que as estiver lendo e que se considere amiga de Deus. A palavra "Teófilo" não aparece apenas nos textos de Lucas. Ela está presente em outras partes do Novo Testamento. Embora alguns autores sugiram que talvez esse Teófilo fosse um governador ou um oficial romando, isto não passa de conjecturas. O mais provável é que se trate de uma palavra dirigida ao leitor da Bíblia. Nos "Atos dos Apóstolos", está escrito: "Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus fez e ensinou...". No "Evangelho Segundo Lucas" (1:3), está escrito: "Depois de acurada investigação de tudo desde a origem, pareceu-me bem dar-te por escrito, estimadíssimo Teófilo, uma exposição em ordem...". A palavra "teófilo" vem do grego clássico como resultante das palavras "theos", que significa "Deus", e "philos", que significa "amigo". Parece-me, portanto, mais sensato concluir que o "Teófilo" a quem Lucas se dirigia não era uma pessoa específica, mas qualquer leitor de qualquer lugar e de qualquer época que se considere um amigo de Deus. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O Significado de "Hosana"

Ilustração do Arquivo Google
A frase que está na foto
está em muitos cânticos

da Igreja Católica,
mas muitos católicos
não sabem o que significa.



Muitos a confundem com "amém", que também tem sua origem no judaísmo e significa "que assim seja". Entretanto, "hosana" no cristianismo ou "hoshana" no judaísmo significa "salve-nos", porém como uma súplica fervorosa, como "Salve-nos, por favor!". "Hosana nas alturas" significa "se não for possível nos salvar na Terra, que nos salve no céu (ou seja, na 'outra vida')".
"Hoshana" é uma palavra do antigo hebraico usada desta forma ainda hoje pelos judeus, que são descendentes dos hebreus, povo do Levante, uma região do Oriente Médio. Historicamente, não se sabe muita coisa sobre a origem dos hebreus. Basicamente, o que se sabe é o que está na Bíblia, mas a maioria das informações carece muito de rigores cientificamente históricos. Há muitas dúvidas sobre o tratamento das fontes, a natureza dessas fontes, a maneira de cada historiólogo interpretar as informações, o processo de redação dos documentos da própria época em que eles viveram, os prováveis equívocos nas traduções das escritas, etc. Há que se mencionar, ainda, as muitas traduções da Bíblia e as modificações pelas quais ela passou ao longo de séculos.
O que se sabe concretamente sobre os Hebreus é que eles surgiram há aproximadamente quatro mil anos, na região da Palestina. "Levante", como consta em algumas edições da Bíblia, é um termo geograficamente impreciso. Alguns historiadores se referem a ela como "algum lugar" no Oriente Médio, especialmente nas proximidades do mar Mediterrâneo. Por isto, eles eram também conhecidos como "Levantinos". Na Bíblia, a palavra "Levante" não parece ser exatamente o nome de uma região, e deve ser por isto que sua localização é tão inexata. Parece-me ter mais o sentido de lugar de onde o povo hebreu se levantou (ou melhor, "saiu") para  viver e criar descendentes em outras paragens, tentando cumprir a ordem de seu Deus: "Ide e espalhai vossos descendentes por toda a Terra." Talvez por isto o significado da palavra "hosana"  seja às vezes mesclado com o de "amém". Desta forma, essa mistura assume um sentido mais completo: "Que assim seja. Cumpramos a tua vontade, e que através dela possamos ser salvos - na Terra ou no Céu. Hosana nas alturas".


Fontes:
  • "A Bíblia Sagrada" - Sociedade Bíblica do Brasil.
  • "The World's Religions" ("As Religiões do Mundo"), de vários autores - Lion Handbooks - Reino Unido.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O Que é "Liturgia"?

Missa numa catedral católica.
Foto: Arquivo Google.
Os conceitos de "Liturgia"
variam,
mas ao mesmo tempo
são todos 
relacionados 
a um conceito único. 




A palavra "liturgia" tem origem grega, e originalmente não tem um significado estritamente religioso: significa simplesmente "serviço público". Desta forma, mesmo sem o saber, todo funcionário público executa liturgias. No entanto, ela é muito mais conhecida em seu sentido religioso, significando, de uma forma geral, "serviço do culto religioso", incluindo-se todos os cultos, inclusive os não cristãos (muçulmanos, xiitas, etc.).
Entre os cristãos, o significado de "Liturgia" é interpretado segundo cada denominação. "Denominação cristã" é qualquer organização religiosa com estrutura e nome próprios e que se considere pregadora e realizadora dos ensinamentos de Jesus Cristo. São exemplos de denominações cristãs a Igreja Católica, a Assembleia de Deus, a Igreja Batista, a Igreja Presbiteriana, etc. Essas instituições são equivocadamente chamadas de "religiões", como se fossem religiões diferentes entre si. Na verdade, todas elas são divisões de uma mesma religião: o Cristianismo. Antes, o Cristianismo era uma única organização cujo líder mundial era o papa. Porém, em 1517, surgiu na Europa um movimento de cunho reformista, liderado pelo padre alemão Martin Luther (no Brasil, conhecido como "Martinho Lutero"), que protestava contra várias questões defendidas pelos papas e seus seguidores. Assim ocorreu a Reforma Protestante, que deu origem as igrejas protestantes, hoje no Brasil popularmente chamadas de "crentes" ou "evangélicas". Apenas a Igreja Católica permaneceu sob o domínio dos papas.
Essa divisão levou ao surgimento de um grande número de igrejas (ou "denominações"), todas se autoafirmando como verdadeiras seguidoras dos ensinamentos de Jesus. Por isto, o significado de "Liturgia" passou a ser visto sob pontos de vista diferentes, segundo cada denominação e cada estudo feito sobre o mesmo significado.
De um modo geral, o significado de "Liturgia" está relacionado especialmente à Eucaristia e à ortodoxia. É por isto que os pontos de vista se divergem: a questão é que a Eucaristia é que é interpretada de formas divergentes. A Eucaristia é o ato central de uma adoração cristã. Numa missa (cerimônia da Igreja Católica), é o momento em que se lembra a "Última Ceia" de Jesus, em companha dos Doze Apóstolos, na noite anterior ao dia de sua morte na cruz. É o momento em que o sacerdote (padre) bebe o vinho que representa o sangue de Jesus e seus auxiliares distribuem entre os presentes as hóstias, que simbolizam o "pão" (simbolicamente o corpo de Jesus).
Devo deixar claro que a palavra "ortodoxia", neste caso, não está especificamente relacionada à instituição conhecida como "Igreja Ortodoxa" ou "Igreja Católica Ortodoxa", à qual me referirei em outro artigo. "Ortodoxia" significa adoção de regras e determinações tradicionais consideradas como "verdadeiras" segundo os costumes e a história de um povo, uma religião, etc.
"Liturgia" vem de duas palavras gregas: "laos" ou "litos", que significam "povo"; e "urgia", que significa "trabalho". Literalmente significa "trabalho ou serviço em prol do povo". No Velho Testamento, que é tomado pela maior parte da Bíblia, o termo "liturgia" aparece com significado de ofícios realizados pelos sacerdotes levíticos (*) no Templo de Jerusalém.
Na Eucaristia, durante uma cerimônia católica, as palavras ditas pelo padre são aquelas registradas no Evangelho Segundo Lucas, no Novo Testamento: "E tomando o pão, e tendo dado graças (a Deus), partiu-o e deu-o a seus discípulos dizendo: 'Isto é o meu corpo oferecido por vós. Fazei isto em memória de mim.' De forma semelhante, depois de cear, tomou o cálice dizendo: 'Este é o meu sangue, derramado em favor de vós.'
Em algumas edições da Bíblia, está escrito em Lucas 22:19-20: "Este é o cálice da Nova Aliança no meu sangue derramado em favor de vós". A expressão "Nova Aliança" também surge no Velho Testamento, em Hebreus 8:7-13, representando um compromisso estabelecido por Deus para com a humanidade, mas que deve ser cumprido lealmente também pela própria humanidade. Assim, independentemente de qual seja a denominação cristã, a Liturgia Cristã lembra o sacrifício de Jesus preservando-se ainda hoje a esperança de que a humanidade cumpra sua parte nessa aliança.

(*) sacerdotes dos levitas, povo que se destacou como uma das Doze Tribos de Israel.

Fontes:
  • A Bíblia
  • "The World's Religions" ("As Religiões do Mundo"), de diversos autores - Editora: Lion Publishers, Inglaterra.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Teologia e Ciência da Religião

Se já existe a teologia,
por que há também
a ciência da religião?



Esta é uma pergunta que tem sido feita por muita gente, principalmente  jovens, desde que algumas universidades brasileiras começaram a introduzir a ciência da religião entre os cursos que elas oferecem. Uma delas é a Universidade Federal do Espírito Santo, que está oferecendo vagas para ciência da religião este ano. Há, no entanto, diferenças significativas entre as suas coisas.
"Teologia" é uma palavra oriunda de duas palavras gregas: "theos" ("deus") e "logos" ("estudo"). Significa o estudo relacionado às crenças em Deus ou em deuses, mas não necessariamente sob o ponto de vista religioso. É o estudo das doutrinas e de sistemas particulares de crenças religiosas. Portanto, a teologia judaica se diferencia da teologia cristã, ambas são diferentes da teologia islâmica, e assim por diante. A primeira pessoa a utilizar a palavra "teologia", pelo menos que se saiba até hoje, foi o filósofo grego Platão (428 a.C./348 a.C.), mas o conceito já existia anteriormente. Na verdade a teologia é o estudo do ente em relação ao ser, considerando, portanto, que "ente" e "ser" não são a mesma coisa. O "ente", neste caso não considerado apenas como um indivíduo, mas o conjunto de tudo que existe, incluindo figuras abstratas como virtudes, imperfeições, sentimentos, etc., e coletivos que envolvem pessoas, tais como Estado, sociedade, comunidade, etc. Porém, a teologia sempre estuda essas categorias relacionando-as com as crenças das pessoas ligadas a elas em seus deuses ou divindades. Lembre-se sempre: "deus" e "divindade" são coisas diferentes. Para citar um exemplo disto, os católicos acreditam em um Deus e em várias divindades (santos e anjos). Portanto, divindades são seres aos quais são atribuídos poderes divinos, mas não chegam a ser comparados com deuses.
O ser é um dos conceitos fundamentais da tradição filosófica ocidental. Assume quatro significados diferentes, também baseados nos ensinamentos de Platão: a existência, exprimindo o fato de que o ser existe; a identidade, que distingue algo ou alguém em relação a si mesmo e a outras coisas ou pessoas; a predicação, que exprime as características específicas de uma pessoa ou um objeto (por exemplo, a cor vermelha de uma maçã, uma pessoa identificada por uma cicatriz no rosto, etc.), e o veritativo, que é a distinção entre o verdadeiro e o falso. Desta forma, o verbo "ser" passa a significar a verdade de uma proposição. 
A ciência da religião reúne métodos de investigação científica das crenças religiosas baseando-se numa estrutura formada por outras ciências: a sociologia, a antropologia, a psicologia, a história e a teologia. O cientista da religião investiga empiricamente (isto, buscando o conhecimento a partir de experiências) uma determinada religião em todas as suas manifestações. Por isto é muito importante que o cientista tenha uma posição neutra em relação à religião estudada, mas não tem que ser um ateu. Em seus estudos ele não questiona nem pode questionar a "verdade" ou a "qualidade" da religião.
O objetivo do cientista da religião é fazer um inventário bem abrangente de fato reais acerca da religião, relacionando-os a um histórico do surgimento e do desenvolvimento da religião estudada e das influências desses elementos em outras áreas da vida. Isto leva ao estabelecimento de semelhanças e diferenças entre as religiões, o que permite a definição de elementos dos fenômenos religiosos universais e particulares.

Fontes: 
  • "The Study of Religion" ("O Estudo da Religião"), de Douglas Davies - em "The World's Religions" ("As Religiões do Mundo"), editora Lion Publishing - Inglaterra. 
  • "Neurociências e Religião: interfaces", de Edênio Valle - Revista de Estudos da Religião - edição de março de 2007 - Pontifícia Universidade Católica (PUC).